terça-feira, 13 de setembro de 2011

Olhares sobre O Baú - Giovanna Zottis


O Trilho e as Crianças

Há quem diga que teatro infantil é uma arte menor. Não para nós do Grupo Trilho. Criar algo para essas “pessoinhas responsáveis pelo futuro” foi desafiador, pois nos colocamos na posição de formadores destes que serão o futuro.
            Todos no grupo somos professores de teatro. Nossa formação na UERGS nos fez atentar nossos olhares para essa troca valiosa que existe entre o fazer e o ensinar. A arte-educação nos possibilita acessar o imaginário dessas crianças ao tomar contato com o que há de mais legítimo na infância: o brincar (e a riqueza de informações que existem nessas brincadeiras).
            É justamente nesse contato que identificamos as proximidades e as distâncias entre nossas infâncias e a infância de hoje. E a frase “No meu tempo...” tem se enchido de sentido.
            Além disso, desde sempre, o Grupo Trilho conta com um público fiel de crianças freqüentadoras do Ferrinho. Lá no Humaitá, quando saímos de porta em porta divulgando as apresentações no Ferrinho são, na maioria das vezes, as crianças que convencem seus pais, tios, vizinhos, a irem assistir e assim levá-las até lá.
            Essa presença marcante das crianças na platéia nos fez muitas vezes falar sobre a montagem de um espetáculo infantil. Eis que o desejo tantas vezes alimentado ganha espaço nestes trilhos do grupo, e o que era fumaça gerada pelos trabalhos anteriores se torna mais um vagão deste trem.


Que Baú é esse?

            “As crianças de hoje são televisivas, midiáticas. Para chamar-lhes a atenção no teatro é preciso show de luzes, músicas animadas, muito movimento...” Algumas vezes ao sair de um espetáculo infantil saíamos com a certeza do que não queríamos fazer. Ou pela linguagem televisiva, ou pela forma como subestimam as crianças.
            Foram, até agora, 8 meses dedicados a uma pesquisa que nos exigiu arregalar os olhos para as crianças a nossa volta, e fechar os olhos para mergulhar em busca das nossas crianças. Dessa mistura nasceram as personagens Dindim e Pimpolha.
            Partimos do desejo de falar de uma infância utópica e ideal, e chegamos à necessidade de falar da infância de hoje, televisionada. De uma forma crítica, mas sem negar a referência, abordamos o assunto abrindo um espaço para a reflexão, afinal desde sempre existiram crianças, e como eram elas antes de serem assim? Como eram os jogos antigos? De que brincavam nossos pais e avós?
            Documentários como “Criança: a alma do negócio” e “A invenção da infância” mexeram com nossas cabeças.
            Da certeza concreta do que não queríamos, passamos a caminhar sobre uma dúvida movediça. Era sobre isso que queríamos falar: um espetáculo para criança e sobre a criança. Mas “o que?” e “como?” nos sacudiam constantemente. Em certo momento do processo chegamos a nos perguntar: Será que isso funciona para criança? Será que não está faltando “musica animada, show de luzes, e muito movimento”?
            Chamamos amigos para assistir a alguns ensaios, e esses ainda nos puseram mais dúvidas! Assim, seguimos experimentando. E foi somente no ensaio aberto que fizemos para os alunos da Carol, (mais sobre esse ensaio clique aqui) que soubemos que trilhávamos um caminho possível.
            E agora, a estréia se aproxima! Tcham tcham tcham tcham! Contamos com os amigos e colegas (artistas e professores) para essa nova empreitada do Trilho. Assistam, levem suas crianças, e assim podemos trocar idéias e alimentar esse debate.

Giovanna Zottis
Integrante do Grupo Trilho

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